Colômbia: país do El Baile Rojo, onde militantes de esquerda são alvos frequentes de atentados, perseguições e detenções arbitrárias. Nesse começo de julho, a política da justiça colombiana de caça às bruxas teve um novo episódio.
Desde o governo Uribe(caráter conservador), as denúncias dos “falsos positivos judiciales” revelam situações comprovadas de encarceramento sem provas de civis.
No dia 8 de julho, os conglomerados de mídia noticiaram a captura de 15 pessoas identificadas como “possíveis” responsáveis pelas explosões de dois artefatos - que ocorreram nas sedes financeira e industrial de um fundo de pensões —. De acordo com as autoridades colombianas, o ato foi "supostamente" cometido por uma célula urbana da ELN(Exército de Libertação Nacional da Colômbia).
Para organizações e movimentos sociais, as detenções acabaram sendo arbitrárias e se configuram como um grave ato de violação dos direitos humanos. Segundo fontes externas consultadas pela Agência Colombia Informa, as prisões estão fundadas em múltiplas irregularidades e, sendo assim, se configuram como uma situação que “apesar do âmbito normativo, a responsabilidade do Estado pelo erro judicial parece clara”, como indicou a advogada e especialista María Angélica Sánchez Álvarez — professora da Universidade Católica da Colômbia.
Os desaparecidos da guerra civil na Colômbia, entre forças do governo e a guerrilha comunista | Foto: J. Marcos
Ademais, no Congresso de los Pueblos, o senador Alberto Castilla indicou que há pelo menos sete “falsos positivos”. Ele alegou que esses casos são de pessoas que estavam fora de Bogotá no momento da explosão.
“Manipulam a justiça para alcançar um desfecho midiático”, declarou o advogado Franklin Castañeda, porta-voz do Movimento de Víctimas de Crímenes de Estado, uma das muitas organizações colombianas que lutam para desvincular a imagem de “terroristas” que o Governo busca instalar. Entre os detidos haviam três contratados da prefeitura de Bogotá — um jornalista da Agência Colombia Informa (Sergio Segura) e uma reconhecida feminista e advogada dos direitos humanos( Paola Salgado) — ; dois filósofos; um estudante de pedagogia, um estudante de geografia, um engenheiro agrônomo; uma cientista política e outros cinco ativistas dos direitos humanos.
O maior jornal de circulação do país, El Tiempo, cujos os donos são da família do presidente Santos, vem tentando criar uma grande confusão nacional ao vincular os ativistas com a ELN(Exército de Libertação Nacional da Colômbia) e com a prefeitura de Bogotá. O prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, representa o renascimento de esquerda colombiana, após do genocídio político da Unión Patriótica. Em 2014, Gustavo Petro acabou sendo deposto pelo presidente Santos. Após mega manifestações, a justiça colombiana foi obrigada a devolver e restituir o cargo.
O advogado Castañeda também lembra que, em casos anteriores, “ 80% dos detidos com acusações midiáticas de vínculo com guerrilhas, com o tempo ficaram livres, e com isso o Estado acaba pagando indenizações milionárias”.
Caso Sergio Segura — jornalista preso
A detenção de Segura e apreensão de seu arquivo jornalístico se dão em um contexto de perseguições e falta de garantias para o exercício da comunicação. A Fundação de Liberdade de Imprensa da Colômbia, documentou 164 casos de jornalistas vítimas de perseguições e violações dos direitos humanos em 2014, no qual 6 foram presos. Em 2015, a fundação reportou 84 denúncias.
Recentemente, os integrantes da Agencia Colombia Informa haviam sidos ameaçados de morte por grupos paramilitares de extrema-direita. Ao vincular a detenção de Segura com a sua cobertura jornalística sobre os temas de conflito armado e paz, a liberdade de imprensa parece enfrentar um mal-estar sem precedentes.
O Guerrilha GRR demonstra sua solidariedade com a situação do companheiro Sergio Segura. O ângulo de cobertura da Colômbia pela mídia tradicional brasileira é sempre no sentido de retratar a coesão nacional e as políticas de segurança. Com raras exceções, as violações dos direitos humanos e as perseguições entram nas rotas de pautas.
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